O momento da Introdução alimentar acho que é um dos mais esperados e ao mesmo tempo difíceis para os pais.

Hoje em dia, alem dos palpites dos familiares, temos mil informações na internet, muitas vezes conflitantes, sem fontes fidedignas, e que só confundem a cabeça dos pais. 

Posso escrever mil textos sobre introdução alimentar e mesmo assim faltarão informações. Então vou começar com esse sobre os princípios básicos da Introdução alimentar.

O que é introdução alimentar?

Introdução alimentar é o momento em que passamos a oferecer alimentos sólidos para as crianças. No primeiro semestre de vida da criança, ela deve se alimentar exclusivamente do leite materno (ou fórmula adequada caso não mame no peito). Aos 6 meses de idade (idade corrigida no caso de prematuros) e/ou quando apresenta os sinais de prontidão, começamos a apresentar os alimentos para o bebê. Isso não significa que a amamentação deva ser abandonada, muito pelo contrario, já que até 1 ano de vida o leite será o principal alimento da criança.

Por quê iniciar aos 6 meses? Para aguardar desenvolvimento neuropsicomotor e do aparelho digestório. Antes disso há maior risco de obesidade e alergias, mas cada caso deve ser avaliado individualmente.

Sinais de que seu bebê está pronto: movimentos voluntários de línguas e lábios, controle da cabeça e pescoço, sustentação do tronco, padrão primitivo de mastigação. O ideal é que o bebê já demonstre vontade de pegar a comida e levar à boca, para que ele realmente experimente a comida, e não que seja forçado a comer.

Na introdução alimentar, o bebê pode ter contato com diversas outras opções de alimentos, de forma gradual, respeitando o desenvolvimento e a aceitação dele. Veja a seguir como isso acontece!

Por qual alimento começar?

Antes dos 6 meses de vida, os bebês devem se alimentar exclusivamente do leite materno (ou fórmula apropriada). Isso significa que as mães não devem oferecer água, chás ou outros alimentos nesse período.

A partir dos 6 meses de idade, os bebês já podem ( e devem) consumir água. Os primeiros alimentos oferecidos podem ser rejeitados pela criança, o que é perfeitamente normal e até esperado, mas isso não deve gerar ansiedade nos pais. A partir desse momento a criança já pode comer diversos alimentos

Os alimentos devem ser oferecidos de forma lenta e gradual. Podem ser oferecidos cereais ou tubérculos, leguminosas, carnes e hortaliças, desde a primeira papa. Deve ser o mais ampla possível (melhorando intolerância e alergenicidade). Desde os 6 meses podem ser oferecidos alimentos como morango, kiwi, peixe (peixes de superfície como a pescada branca e não peixes predadores), nuts (castanhas, amêndoas, amendoim), carne de porco, ovo inteiro. Os alimentos devem ser sempre bem higienizados e bem cozidos.

Oferecer sem rigidez de horário e respeitando a vontade da criança. Horários rígidos podem prejudicar a capacidade da criança de distinguir a sensação de fome. No entanto é importante manter um intervalo regular entre as refeições (em torno de 3 horas). No horário das refeições evitar distrações (evite ao máximo uso de tablets, celulares e televisão!). A criança está sendo apresentada aos alimentos, então o ideal é que ela perceba o que está fazendo, sem distrações.

A alimentação deve ser espessa desde o início. Não usar peneiras, nem liquidificador. No inicio amassar com garfo e aos poucos aumentar a consistência, chegando na alimentação da família. Quanto mais espessa, maior é a densidade energética.

Alimentação colorida. Pense sempre se você teria vontade de comer o que está sendo oferecido à criança. Oferecer os alimentos separados para que a criança reconheça cores, texturas e sabores. A preocupação maior deve ser com a qualidade oferecida, e não com a quantidade aceita. Deixar a criança explorar a comida.

Alimentos que não devem ser dados até 1 ano: mel, leite de vaca, açúcar e sal. Evitar café, enlatados, frituras, refrigerantes, balas, salgadinhos e guloseimas. Esses alimentos, além de não nutritivos, tiram o apetite da criança. No entanto a comida não precisa ser sem gosto. Todos os temperos estão liberados (cebolinha, salsinha, coentro, tomilho, manjericão etc).

Se for refogar os alimentos prefira azeite de oliva extra virgem. Um fio de óleo ou azeite também pode ser acrescentado após o preparo da comida. Preferencialmente canola ou soja (mais ômega 3).

Se for utilizar o método BLW não esquecer: cortes grandes e longitudinais (falarei mais sobre o método em outro post).

Dos 12 meses em diante

Nesta fase, a consistência dos alimentos deve ser, se possível, igual à da família. Ou seja, não é necessário amassar e fazer papinhas para o bebê. No entanto, é ideal que a amamentação ainda esteja presente na rotina. 

A alimentação das crianças é um processo lento e gradual. Portanto, são necessárias a observação e a insistência, porém, com muita paciência, carinho e respeito ao tempo dos pequenos. Veja alguns pontos importantes que devem ser respeitados no processo de introdução alimentar da criança:

  • não insistir, caso a criança demonstre não querer o alimento;
  • não force nunca a criança a comer. Criando relações negativas com a comida no início, a chance da criança desenvolver seletividade ou transtornos alimentares no futuro é muito maior;
  • não castigar se houver recusa de alimento ou oferecer prêmios para que a criança coma;
  • não bater os alimentos no liquidificador. Permita que a criança perceba as diferentes cores dos alimentos, além das texturas próprias de cada item;
  • dar preferência às frutas e aos legumes locais e de cada estação;
  • evitar sucos , mesmo os naturais. Dê preferência às frutas in natura;
  • oferecer carnes e vísceras (boas fontes de ferro) nas refeições das crianças, sempre que possível;
  • caso a criança se recuse a comer determinado alimento, incentive-a em outras oportunidades, sem forçar ou brigar;
  • o exemplo da criança é a própria família, portanto, coma os mesmos itens que você oferecer ao seu filho;
  • não estimular o consumo de doces, café, comidas industrializadas, frituras, refrigerantes, enlatados e embutidos (salsicha, hambúrguer, salame, mussarela, presunto e linguiça);
  • não misturar os alimentos no prato. Permita que a criança perceba as diferenças entre um alimento e outro (principalmente no início da introdução alimentar);
  • não ter pressa. A criança pode brincar e comer. Tenha paciência e humor nessa fase é fundamental;
  • lavar e conservar bem os alimentos oferecidos. 

Essas são algumas das dicas sobre introdução alimentar. Gostou delas?

Quer saber mais? Estou à disposição para solucionar qualquer dúvida que você possa ter e ficarei muito feliz em responder os seus comentários sobre este assunto. Leia outros artigos e conheça mais do meu trabalho como pediatra em São Paulo!

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