Ter alimentação saudável como rotina na fase adulta é algo que vem de berço. E estamos falando no sentido literal da palavra! Comer bem é algo que deve ser ensinado desde o início para as crianças. É importante que a família incentive o hábito desde cedo, uma vez que a obesidade infantil vem crescendo assustadoramente.

Imagine: daqui a 3 anos, podemos ter mais crianças com sobrepeso e obesidade do que com desnutrição, em todo o planeta!  Esses dados foram constatados pela pesquisa do Imperial College London, em conjunto com a Organização Mundial da Saúde (OMS), publicada pela revista The Lancet, em 2017.

O estudo analisou mais de 130 milhões de pessoas com mais de 5 anos de idade, em diversas regiões do mundo. O objetivo era comparar o Índice de Massa Corporal (IMC) dos anos de 1975 até 2016 e verificar a evolução da obesidade nesse período.

A conclusão: a obesidade no público entre 5 e 19 anos de idade aumentou 10 vezes  nos últimos 40 anos, no mundo todo! Esse crescimento ocorreu tanto em países desenvolvidos quanto em nações em desenvolvimento, como o Brasil. Esses dados refletem o impacto do marketing e das políticas alimentares, em um mundo onde os alimentos saudáveis estão cada vez menos acessíveis economicamente.

Um dos principais motivos dessa tendência foi o acesso a alimentos ultraprocessados, que são mais baratos em comparação aos alimentos mais saudáveis. Além disso, a maior interatividade entre crianças e adolescentes por meio de telas tem sido outro fator de risco para o aumento do sobrepeso. Os smartphones e videogames são tecnologias que estão transformando as nossas crianças em sedentários precoces.

Obesidade infantil e doenças crônicas

Os alimentos processados não são responsáveis apenas por criar crianças obesas. Esses produtos prejudicam o desenvolvimento delas. A má alimentação nessa importante fase da vida pode trazer diversas complicações para a saúde, como anemia, pressão alta e diabetes. E isso vale principalmente para as crianças que tem acesso a esse tipo de alimentos o tempo todo.

A seguir, neste artigo, trago dicas a seguir do Ministério da Saúde para o desenvolvimento saudável de crianças de 0 a 10 anos. Vamos mostrar, em primeiro lugar, como podemos melhorar a alimentação dos menores de 2 anos e, em seguida, as melhores práticas para a alimentação de crianças entre 2 e 10 anos de idade. Confira!

Alimentação saudável para crianças menores de 2 anos

1# Somente leite até os 6 meses

Até os 6 meses de idade, não se preocupe com outros meios de nutrição do bebê que não sejam o leite materno (exceto fórmulas lácteas adequadas para os bebês que por algum motivo não mamam mais no peito). Não é necessário oferecer água, chás ou outros alimentos no primeiro semestre de vida da criança.

2# Outros alimentos após os 6 meses

O leite materno deve ser mantido até os 2 anos de idade, ou mais. No entanto, após os 6 meses de vida, é possível oferecer outros inúmeros alimentos como alimentação complementar.

3# Sem mais sopinhas batidas

Os alimentos oferecidos para a criança após os 6 meses de idade devem ser pastosos, amassados com o garfo e oferecidos separadamente (não mais peneirados ou batidos no liquidificador todos misturados, como fazíamos até pouco tempo atrás). De acordo com a aceitação podemos progredir na consistência. Hoje também temos a introdução alimentar participativa e o BLW, onde a criança participa ativamente e não mais somente recebendo a comida na boca. As refeições preferencialmente devem ser em família, e a quantidade deve respeitar aquilo que a criança estiver disposta a comer.

4# Proibido no prato da criança

Evite oferecer para a criança de até 2 anos as seguintes opções:

  • açúcar:
  • frituras;
  • refrigerantes;
  • salgadinhos;
  • balas;
  • comida enlatada;
  • café;
  • sal em excesso — oferecer apenas com muita moderação.

Crianças de 2 a 10 anos

5# Tenha paciência

A criança precisa comer devagar para mastigar os alimentos de forma adequada. Portanto, nada de enfiar a comida goela abaixo, com pressa para realizar as suas tarefas do dia a dia. Lembre que a pressa é nossa, e não delas. Tente não pular nenhuma das refeições e respeitar o horário de cada uma delas, para que a criança tenha uma rotina.

6# Legumes, frutas e verduras

Estes itens devem fazer parte da alimentação diária da criança. Os legumes e verduras precisam estar em duas refeições do dia, preenchendo 50% do prato. As frutas devem ser oferecidas em lanches e sobremesas, também diariamente.

7# Sucos

Diferente do que era antigamente, o consumo dos sucos hoje em dia não é estimulado. Dê preferência para a fruta in natura. Sucos de caixinha então devem ser evitados, devido ao grande teor de açúcar e conservantes.

8# Fontes de cálcio

Leite e/ou derivados ainda devem ser oferecidos,  pois o cálcio ajuda na formação dos ossos da criança, além da formação dos dentes e músculos. O cálcio também está presente em vegetais verdes (como couve e brócolis) e peixes (como sardinha e salmão), entre outros alimentos.

9# Água

O consumo de água pelas crianças deve ser sempre incentivado. Eles “esquecem” de beber água e tem maior tendência a desidratação, então cabe aos pais sempre lembrar de oferecer.

10# Os vilões

Para evitar o desenvolvimento da obesidade e outros problemas causados pela má alimentação da criança, evite oferecer ou estimular o consumo dos seguintes alimentos:

  • frituras;
  • gorduras;
  • pele de aves;
  • sucos industrializados;
  • refrigerantes;
  • balas, bombons, doces e biscoitos recheados;
  • salgadinhos;
  • temperos prontos;
  • enlatados;
  • embutidos, como mortadelas, presuntos, salsichas e linguiça.

Crianças maiores certamente terão acesso e vão querer comer esses alimentos.  O problema é quando isso é a rotina, e não a exceção.

Se quiser saber mais sobre o estudo citado no início do texto: https://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140-6736(17)32129-3/fulltext?elsca1=tlpr

Quer saber mais? Estou à disposição para solucionar qualquer dúvida que você possa ter e ficarei muito feliz em responder os seus comentários sobre esse assunto. Leia outros artigos e conheça mais do meu trabalho como pediatra em São Paulo!

Artigos semelhantes